Quem tem medo da terceira margem? Vozes e vias migrantes: entre memórias e projecções

Resumo

Este estudo centra-se nalguns elementos de comparação entre a literatura escrita por e/imigrantes e aquela escrita pelos seus descendentes. Ainda que ambas possam ser consideradas como "vozes e vias migrantes", porquanto se assentam no descentramento e no confronto cultural, através do discernimento de certos pontos de desvio da segunda em relação à primeira, procura-se mostrar em que medida a literatura de descendentes de migrantes se coloca à margem de oposições binárias (aqui/lá; estrangeiro/nacional; centro/periferia...) que, muitas vezes condenaram (ou continuam a condenar) as vozes de e/imigrantes. Mediante uma contextualização teórica e prática d'"esses usos menores de línguas maiores", levados a cabo por aqueles que a maior parte das vezes são obrigados a fazer escolhas esquizofrénicas, procura-se relevar tanto os desafios como os riscos estéticos e socio-culturais desse "mundo imaginário do interstício". Ancorado no plano da experiência, é nele que se jogam os reptos de uma efectiva interculturalidade em sociedades cada vez mais multiculturais, sob pena ou da perda total das marcas da diversidade que as constituem, ou de perpetuação de identidades culturais estereotipadas. O "corpus" desta análise privilegia (mas sem exclusividade) autores/textos ligados directa ou indirectamente a Portugal, país europeu com uma já longa tradição migratória.