O Oriente na versão de Eça: conflitos e revelações
Palavras-chave:
Orient, representação do intelectual, ambivalência narrativa, lugar comumResumo
Pretendeu-se, a propósito da obra de Eça de Queirós Egipto - Notas de Viagem embora não exclusivamente, primeiro acentuar a posição interessada e crítica do narrador-intérprete em relação ao Oriente quer como intelectual cosmopolita que procura ler obstinadamente no Egipto os resquícios que muitos séculos de história e cultura aí inscreveram, pese embora a desfiguração que a vida moderna e a colonização impuseram; quer como escritor que reconhece no Oriente a oportunidade de experimentar um registo inverosímil que propicia a experimentação linguística. Por seu turno, algumas das virtualidades literárias do Oriente decorrem deste ser interpretado como lugar por excelência do Outro em contraste com a civilização ocidental e, nessa medida, possibilitar a ficção idealizante de um estado sem consciência em que dominam os instintos. Finalizo sublinhando que a duplicidade inerente ao modo como as cenas de mais envolvimento são abruptamente interrompidas ou o "gongórico", registo escolhido fazem parte da estratégia de caricaturar uma visão idílica e ingénua do Oriente que Eça não perfilha.